A renovação imperial dos Estados Ibéricos : uma globalização original ? (1808-1930)

A corrente da world/global history, aparecida nos Estados Unidos nos anos oitenta, conheceu desde então um importante desenvolvimento. Todavia, a descentração das perspectivas propostas parece tropeçar no caso da Península Ibérica : com efeito, a perda das colónias americanas entre 1808 e 1825 significaria o fim claro do imperialismo ibérico. A perda dos últimos “confetti do império” pela Espanha em 1898, - o Desastre –, e a colocação sob a tutela do império português pelo Reino Unido em 1890 confirmariam o lado atípico do percurso destas antigas potências coloniais, julgadas decadentes.
Recentemente, as historiografias espanholas e portuguesas adoptaram uma « perspectiva atlântica » que volta a interrogar a natureza das relações e das interacções entre a metrópole e as colónias.  Salienta-se significativamente mais do que nunca a amplitude do fenómeno de retoma que em conjunto com os países do Norte da Europa, tenta reconstruir um império a partir de 1860. A aventura colonial espanhola em Marrocos entre 1906 e 1926 prova que a reconquista colonial vai para além da perda das jóias provenientes das Antilhas ou das Filipinas em 1898.
Hoje, Espanha e Portugal, devem ser obrigatoriamente vistos como espaços político - administrativos compósitos, compreendendo uma metrópole e as colónias, nos quais as partes são indissociáveis e interagem constantemente. Este projecto adopta uma perspectiva externalista e cruzada que considera a relação metrópole/colónias no centro de qualquer análise, e que rompe com as tradições historiográficas  nacionalistas que colocam o acento numa abordagem internalista, reduzindo as colónias a algo de insignificante.
Durante o século XIX a vontade de participação no império torna-se um cimento primordial, sobretudo à escala regional, e a função do império como berço de uma nova identidade colectiva cresce ao longo do século. No que respeita uma parte importante da opinião pública e certamente das elites espanholas, a realidade imperial tem tanta força como a realidade nacional. É verdade que no debate político : correntes de contestações alimentam o radicalismo político na metrópole e nas colónias, pondo eventualmente em causa os fundamentos do Estado-Nação liberal ; o carácter de excepção dos estatutos coloniais é contemporâneo perante o de algumas regiões de Espanha, onde prevalecem os estatutos constitucionais particulares ou outros. Esta constatação é naturalmente extensível às questões que tocam a natureza do Estado.