O confronto entre o estado da arte acerca dos estudos sobre as pequenas cidades e a realidade atual permite identificar um paradoxo: ainda que a Europa seja maioritariamente constituída por núcleos urbanos de pequena e de média dimensão, a investigação académica desenvolvida nas áreas da sociologia, da geografia, do ordenamento do território ou do urbanismo, privilegia a análise das grandes cidades. Quando a dimensão temporal é acrescentada à pesquisa, o panorama não é mais animador. Assim, as pequenas cidades da Idade Média e das Épocas Moderna e Contemporânea só em momentos muito precisos e descontinuados se constituíram em objeto de estudo preferencial doshistoriadores.

No entanto, os núcleos urbanos de reduzida dimensão persistem ainda no tempo presente, uma parte dos quais esvaziados de população e de competências. Em contrapartida, eles são hoje identificados como pilares dos modelos de desenvolvimento elaborados por economistas, arquitetos e peritos em planeamento, em nome da concretização do conceito de coesão territorial (cf. Camagni: 2006; Faludi: 2009;Knox e Mayer: 2009).

O referido desinteresse pelo tema deve ser matizado. Com efeito, inúmeras monografias sobre pequenas aglomerações, bem como análises à escala regional, têm vindo a ser elaboradas pela comunidade científica europeia e americana. Mas as abordagens que estabelecem similaridades, num espaço e/ou tempo alargados,escasseiam.

No momento em que a comparação foi trazida para a agenda historiográfica, desencadeou-se uma intensa reflexão e um profícuo debate que redundaram em resultados não convincentes. De facto, o projeto de cotejar o comportamento demográfico nas pequenas cidades em França e em Inglaterra (1600-1850,) dirigido por Peter Clark e Jean Pierre Pousson, em 1985, colidiu com a indefinição do adjetivo “pequeno” enquanto categoria estável de análise. Contudo, tal óbice impulsionou uma reflexão sobre o tema por parte de especialistas em todas as cronologias (Pousson; Loupèz: 1987). Os intuitos comparativos à escala europeia culminaram na edição de Small towns in Early Modern Europe (Clark: 1995).Por seu turno, em França, não mais a problemática das pequenas cidades foi abandonada: criou-se, em 1991, a Sociedade Francesa da História das Pequenas Cidades que organizou vários colóquios e edições, lançaram-se pontes de diálogo com os geógrafos (CERAMAC : 2003) e aplicaram-se, criticamente, as bases dos seus modelos interpretativos (Fray: 2006). Em Portugal e em Espanha, continuaram a acumular-se as monografias históricas sobre núcleos urbanos “pequenos” e, só muito recentemente, foi ativado o debate sobre esta problemática, abordada numa escala geopolítica alargada (Costa: 2014). Relativamente à Península Ibérica, na Época Contemporânea, elaboraram-se alguns estudos genéricos sobre o desenvolvimento urbano, embora sem autonomizar o contributo das pequenas cidades (Reher: 1994; Silva: 1997; Cardesin Diaz e Mirás Araujo: 2015)

Também do lado da geografia, os resultados dos estudos sobre pequenas cidades, que assumem a comparação por horizonte, não têm sido animadores. Tal é admitido tanto pelos próprios coordenadores de projetos internacionais (Laborde, Ferrer: 1991) quanto pelos seus avaliadores (Tesson: 2009).

Conclui-se que a mutabilidade de definições de pequena cidade, quando equacionada com as variáveis espaço e, sobretudo, tempo, dificulta qualquer estudo comparativo.