Grelha de Questões

«Arquivos de família» ?

Esta expressão, que não é óbvia, suscitada questões variadas que encontram eco em suportes bibliográficos marcados por um esforço de renovação e de problematização historiográfica e epistemológica:

  • acerca  da articulação entre arquivos, fontes e história (archival turn ou “viragem arquivística) e «tournant documentaire» ou “viragem documental”),
  •  acerca da escrita, das suas práticas e dos seus usos (literacia, escrituralidade, “revolução documental”, “revolução arquivística”),
  •  acerca da memória e do poder memória.

Encontramos alguns exemplos destes esforços:

  • na introdução feita por E. Anheim e O. Poncet ao número da Revue de Synthèse 2004 sobre «Fabrique des archives. Fabrique de l’Histoire»,
  • na introdução feita por J. Morsel à obra Défendre ses droits, construire sa mémoire. Les Chartriers seigneuriaux (XIIIe-XXIe siècle), Actas do colóquio de Thouars (2006), ed. Ph. Contamine e L. Vissière, Paris, 2010,
  • na obra Arquivos de familia, seculos XIII-XX : que presente, que futuro?, ed.. Maria de Lurdes Rosa, IEM / CHAM/ Caminhos Romanos, Lisboa, 2012.

As reflexões articuladas encontram-se ligadas a um questionamento duplo:

  • os arquivos, a arquivagem e a sua relação com as famílias
  • os arquivos que se transformaram em «arquivos de família» e, de forma geral, passam por perguntar
  • Porquê e como constituíram as famílias os seus arquivos?
  • Quais são s contextos desta arquivagem tanto do ponto de vista das famílias como dos historiadores e dos arquivistas? Até que ponto os arquivos fabricam e inventam as famílias, dando a ler estruturas, identidades e memórias familiares forjadas?


Serão abordadas as temáticas seguintes:

•  Os contextos, os usos, objectivos e processos de elaboração, de reorganização e de conservação dos fundos familiares:

  • comanditário(s), fundador(es) / reorganizador(es)…
  • história e lógica da transformação dos documentos em arquivo (arquivagem), da constituição e da conservação dos arquivos (desde o momento da génese do fundo de arquivo / ao longo dos tempos).
  • os arquivos de família, as fontes, que são o resultado de um amplo processo que implicou a filtragem, a triagem e o rearranjo da produção documental.
  • contextos, usos e contextos: políticos, familiares; instrumentos de gestão, defesa de direitos (valor probatório, em justiça…); construção memorial; construção social; dominação social; fabrico de identidade e de coesão do grupo (arquivos como lugares de poder e lugares de memória) entre passado, presente e futuro…

•    Materialidade dos arquivos, aspectos arquivísticos:

  • organização material:
    - lugar(es) (não alterado(s) / transferido(s)),
    - eventual pessoal (notários, capelães…)
    - modalidades materiais da conservação (sacos, cofres, armários) no que concerne os tipos de classificação e regulamentação dos arquivos…
  • materialidade dos documentos:
    - documentos isolados, registos, inventários, livros de arquivo, maços…
    - suportes, grafias, ornamentos, encadernações…

•    Práticas escriturais e culturais:

  • Aspectos diplomáticos
    - originais / cartulários / inventários…
    - originais / cópias / duplicação que cria um novo documento
  • Criação dos arquivos e criação de uma nova intertextualidade, detectável à escala dos cartulários, inventários, livros de arquivos… (lógica dos arquivos, da sua intextualidade em vez da lógica do documento)
  • Influências (influências jurídicas, culturais, ofensivas de outra autoridade…)
  • Fenómenos de hibridação (prólogos, genealogias, narrativas inseridas nos inventários…)
  • Constituição de colecções de arquivos, patrimonialização, relação com bibliotecas ou objectos… (de novo lugares de poder, lugares de memória)
  • Valor e simbolismo da escrita, valor e simbolismo dos arquivos